O CESP presta a sua homenagem ao enorme colectivo da CGTP-IN, do qual se orgulha de ser membro fundador, no ano comemorativo do 40º aniversário, com depoimentos de quadros actuais e de ex-dirigentes e activistas que viveram, o crescimento da grande Central Sindical dos Trabalhadores Portugueses.

 


O CESP Participou na fundação da CGTP-IN em Outubro de 1970 - Gomes Peres

1 de Outubro de 1970 - 1 de Outubro de 2010
40 anos de vida da criação da Intersindical


  Data muito importante para os trabalhadores portugueses


Algumas Direcções Sindicais que ultrapassaram a vigilância da PIDE e foram eleitas democraticamente pelos associados, após a abertura "marcelista" em 1969, decidiram criar uma estrutura de coordenação das suas reuniões regulares, onde discutiam e aprofundavam as acções de luta a encetar em termos nacionais, às quais chamaram de "reuniões intersindicais".


Para além dos Caixeiros de Lisboa (hoje CESP) que é um dos fundadores, faziam parte os Bancários do Sul e Ilhas; Seguros do Sul; Lanifícios e Têxteis do Sul; Técnicos de Desenho; Assistentes Sociais; Propaganda Médica; Metalúrgicos de Lisboa e Porto; Comércio e Escritórios de Leiria, Santarém e Braga e ainda, vários grupos de trabalho: Escritórios de Lisboa e Porto; Motoristas de Lisboa; Administrativos da Marinha Mercante e Electricistas de Lisboa.


Julgo que é possível que existissem outros sindicatos ou grupos de trabalho, mas estes foram os principais fundadores.


Camaradas,

As primeiras reuniões, realizaram-se em Lisboa, mas a perseguição por parte da polícia política, obrigou-nos a realizar outras reuniões regulares descentralizadas, em Braga, Porto, Leiria, Santarém e Coimbra, para que assim pudéssemos estar um pouco menos vigiados.


Para que alguns camaradas possam ter uma ideia mínima, de como era difícil realizar e ajudar no trabalho de esclarecimento sindical, este era feito depois de cumprir o horário de trabalho na empresa, normalmente das 9,00 às 19,00 horas, e só a partir dessa hora, íamos para o Sindicato, dar apoio aos sócios, fazendo sempre as reuniões depois das 21,00 horas, realizando trabalho de rua no período de almoço ou 10 a 15 minutos antes das saídas das lojas, com maior número de trabalhadores, tais como: os Grandes Armazéns do Chiado, Grandela, Eduardo Martins, Lanalgo, Brás e Brás, Dinfer entre outras, onde distribuíamos os comunicados sobre a luta dos trabalhadores.


Camaradas,

Como todos devemos entender, esta estrutura dos trabalhadores portugueses foi fundamental para ajudar a preparar e criar condições através das lutas de carácter reivindicativo e social, que se verificaram com maior força e incidência, de Janeiro a Abril de 1974, pois só no distrito de Lisboa, estiveram em luta cerca de 300 mil trabalhadores, criando através desta forma de contestação e revolta, todo um ambiente de luta permanente pelos mais elementares direitos de cidadania, tais como:

- Pela Liberdade de expressão e reunião.
- Pela negociação colectiva.
- Pelo aumento do salário mínimo nacional para 5.000$00.
- Pelas 44 horas de trabalho semanal.
- Pela semana-inglesa.
- Pela liberdade dos presos políticos.
- Pelo fim da guerra colonial.
- Contra o aumento dos preços dos produtos de primeira necessidade.


Num país onde reinava uma feroz ditadura, a palavra "liberdade" era fundamental para concretizarmos os nossos sonhos e desejos.


Após o acto heróico dos capitães de Abril, era preciso que a nossa Intersindical, hoje CGTP-IN, como força verdadeiramente representativa dos trabalhadores portugueses, iniciasse organizadamente a tomada dos Sindicatos, que estavam nas mãos dos patrões fascistas e passassem para as mãos dos trabalhadores, para que estes dessem início ao processo de eleições democráticas, elegendo os seus representantes, e onde todos com verdadeira liberdade, participassem e votassem!


Também foi a nossa Organização Intersindical, que deu início á tomada dos Ministérios e Corporações e que permitiu ao MFA nomear homens de cariz democrático e antifascista para dirigirem provisoriamente esses organismos.


Para a história de luta dos trabalhadores portugueses ficará sem dúvida, o 25 de Abril de 1974, que pôs termo a quase cinquenta anos de ditadura e de fascismo. Mas o 1º de Maio de 1974, foi a consagração da luta generosa e abnegada do nosso povo e foi com o Maio, com a nossa força e querer, com a nossa organização, com a nossa consciência de classe que partimos para as mais importantes conquistas dos trabalhadores portugueses.


Lutando para:

- Reconhecer oficialmente o 1º de Maio - Dia do Trabalhador
- Conquistar a livre negociação colectiva
- O direito a trabalho igual, salário igual
- Direito à Greve
- Um mês de Férias
- Um mês de Subsídio de Férias
- Um mês de Subsídio de Natal
- Segurança Social
- Direito à Reforma
- Subsídio de Desemprego
- Horários de trabalho dignos.


Tudo o que conquistámos e podemos vir ainda a conquistar e muito mais, devemo-lo em grande parte, á nossa organização e força sindical.


Os trabalhadores - os Delegados Sindicais - os Dirigentes - os Sindicatos e a CGTP-IN.


Camaradas,

Podemos ser todos óptimos oradores, mas não podemos esquecer que, se não soubermos transmitir aos nossos camaradas de trabalho, que só através da nossa organização e luta colectiva, poderemos criar nos trabalhadores uma maior confiança na nossa organização, não estaremos a alcançar todos os nossos objectivos!


Sem nunca esquecer que no local de trabalho é onde o Trabalhador mais sente a opressão, a repressão, e a discriminação patronal, e onde deixa a mais valia criada, logo é o seu campo de batalha, por isso nós como dirigentes, nunca podemos esquecer a luta de classes para criar-mos uma sociedade socialmente mais justa e humana!


Camaradas,

40 Anos ao serviço dos trabalhadores Portugueses e se a nossa CGTP-IN souber como até aqui, manter a insígnia - Unidade na Acção a Força dos Trabalhadores, de certeza que estamos prontos para lutar por mais 40 anos de vida!


O CESP homenageia também os camaradas que já não fazem parte dos vivos, mas que foram obreiros da criação da nossa Central Sindical:


Manuel Lopes - João Amaral - Antero Martins - Tolentino Lourenço e Álvaro Rana

 

Viva a CGTP-IN!

Vivam os Trabalhadores Portugueses!

Até à Vitoria final dos Trabalhadores!

Portimão, 14 de Janeiro de 2010
Gomes Peres

40 anos a marcar o tempo com a luta de quem trabalha - Manuel Guerreiro, Presidente do CESP

Em  Outubro  de  1970,  para  reunir  força  e solidariedade os Sindicatos dos Caixeiros de Lisboa,  hoje  CESP,  Bancários,  Lanifícios  e Metalúrgicos convocaram a primeira reunião intersindical.

 

As  direcções  dos  quatro  sindicatos  tinham acabado  de  ser  eleitas  democraticamente pelos  sócios  daqueles  sindicatos, contra o que  era  a  prática  corrente  no  tempo  do fascismo  em Portugal,  e  começavam  a  luta pela  defesa  dos  direitos  e  interesses dos trabalhadores  nas  difíceis  e  perigosas condições  que  então  prevaleciam  em Portugal.

Não  havia  a mínima  liberdade,  para  reunir, pensar ou  falar, nem segurança no emprego - o  trabalhador  podia  ser  despedido  porque tinha  o  cabelo  castanho  e  o  patrão  não gostava, era o tempo despedimento livre sem justa causa - e   quem não se "acomodasse" era  perseguido,  preso  e torturado pela polícia politica, a PIDE/DGS. Apesar   disso  homens  e  mulheres trabalhadores  não  se  acomodavam  nem acobardavam,  superando  e  vencendo  as difíceis condições existentes e enfrentando as perseguições  e  prisões,  avançaram  para acção sindical mobilizando os trabalhadores, um a um, boca a boca, através do contacto pessoal,  tecendo  uma  rede  de  ligações  em volta  da  exigência  de  negociar  contratos colectivos para aumentar salários e melhorar direitos,  reduzir o horário de  trabalho de 48 para 44 horas semanais,  impor o dia e meio de descanso semanal a coincidir com sábado de tarde e domingo - semana  inglesa.

 

O então Sindicato dos Caixeiros, hoje CESP, era  um  activo  protagonista  nessa  batalha, percebendo a direcção que sozinha, isolada, seria  facilmente  demitida  pelo  Governo fascista e os seus principais membros seriam encarcerados nas prisões políticas. Precisava de  ter uma  ligação muito  forte e assentar a sua acção  no  apoio  e  participação  dos trabalhadores,  e  criar  ligações  com  outros sindicatos  que  também  tinham  sido conquistados  pelos  trabalhadores  aos fascistas.


Assim teceram uma teia de contactos com os trabalhadores das  lojas e armazéns das áreas centrais  de  Lisboa  e  outras  cidades.  Os grandes  armazéns  do  Chiado,  Grandella, Eduardo Martins, Lanalgo, Bestega, Ramiro Leão, Lojas Francas do Aeroporto, e  tantos outros  pelo  elevado  número  e  capacidade reivindicativa e de mobilização tiveram papel de  destaque  no  apoio  e  participação  no sindicato  nesses  tempos  difíceis,  ajudando decisivamente na construção do sindicato e dos direitos de que hoje beneficiamos.

 

Para alargar a participação e dar suporte de massas  às  posições  sindicais,  então realizavam-se, na sede do sindicato, à noite, depois  da  hora  de  trabalho,  reuniões  de grupos  de  trabalho  constituídos  por trabalhadores designados pelos colegas das empresas  para  tratar  dos  problemas  dos contratos  colectivos,  da  reclamação  e  da acção  pela  redução  dos horários, apoiar  as vítimas  da  repressão  e  despedimentos patronais, segurança social e promoviam-se reuniões sucessivas da Assembleia Geral, à  noite, (nesse tempo não havia direito a reunir nos locais de trabalho, nem crédito de horas para  reunir  como  há  hoje)  normalmente  no grande  salão  da  Voz  do  Operário,  com  a participação  de  centenas  e  centenas  de trabalhadores.

 

Uma  dessas  grandes  assembleias  gerais, com mais de mil trabalhadores participantes, decidiu  mobilizar  os  trabalhadores  do comércio  para  o  dia  15  de Março  de  1971, para depois do  trabalho se deslocarem a S. Bento  sede  do  Governo  a  entregar  uma
exposição  contra  a  revogação  da  decisão arbitral  do  CCT  para  o  comercio  que consagrava  a  redução  do  horário  para  44 horas e o dia e meio de descanso a coincidir com o sábado de  tarde e domingo.

 

Milhares de trabalhadores saíram das lojas e dirigiram-se  à  sede  do  Governo,  para pacificamente  acompanhar  a  comissão  de luta  da  semana  inglesa  na  entrega  da exposição, foram recebidos pela violência da então  "polícia  de  choque"  à  bastonada  e mordeduras  dos  cães,  ainda  hoje  há trabalhadores com as marcas de orgulho de  lá terem estado, naquela que seria das maiores manifestações de trabalhadores no centro da cidade de Lisboa, enfrentando o fascismo e a repressão em que este assentava. 
A  Intersindical,  hoje  CGTP-Intersindical Nacional  nasceu  pois  da  necessidade  dos sindicatos e  trabalhadores  se  coordenarem, apoiarem  e  serem  solidários  na  luta  unida pelos direitos,   liberdade e a democracia.

 

A CGTP-IN assim tem sido ao longo destes 40 anos de vida, com isso, conquistámos liberdade,  democracia,  direitos  e  as  40 horas semanais.

 

Organização  dos  trabalhadores,  para  os trabalhadores, sempre na  luta unitária pela defesa de direitos, melhores condições de vida e salários, emprego com direitos e por um Portugal, democrático, desenvolvido e solidário.

 

Viva o 40.º aniversário da CGTP-IN!

Manuel Guerreiro, Presidente do CESP

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